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sábado, 10 de maio de 2014

Dilema #1 - Será que eu consigo?


ATUALIZAÇÃO: Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.

Como disse no outro texto, estava – e ainda estou – consideravelmente relutante em escrever, mas agora que dei início, sinto que devo relatar pelo menos o que tenho feito, passado e sofrido até agora durante estes primeiros passos no aprendizado da arte dual de Dominar.
Dual? Sim. Dominar é uma arte bruta, afinal bater, imobilizar, asfixiar, brigar, amarrar - e muitas vezes até mesmo levantar por uma corda – cortar, perfurar, aplicar choques, privar o outro de um – ou mais – sentido são práticas brutas. No entanto, cada uma delas, cada detalhe específico requer sutilezas. Um movimento fora de eixo pode transformar uma pancada perfeita em uma tragédia, uma amarração mal feita pode trazer problemas à circulação ou causar fraturas (em casos de suspensão), uma perfuração ou um corte mal feito então, nem precisam ser citados, um segundo a mais ou a menos pode transformar uma descarga de dopamina e endorfina por hipoxia (falta de oxigenação no cérebro) em um dano neurológico permanente, etc.
Um iniciante que se depara com as maravilhas fetichistas do mundo pornô não faz ideia de metade dos riscos citados aqui em cima (que, francamente, não são nem um começo de lista razoável quando se trata dos perigos). Até que, ao abrir as portas reais do BDSM, se depara com relatos, vídeos e sites que trazem – em sua minoria, devo admitir – a realidade. Aquele que disser que não se assustou no começo está mentindo ou tem alguma desordem psicológica. E isto traz o primeiro dilema: Será que eu consigo fazer essas coisas?
Sendo um dilema um problema com duas soluções controversas (ou mais soluções inaceitáveis), as respostas óbvias são “sim” ou “não” e suas consequências diretas são, respectivamente, “sigo em frente” ou “estou no caminho errado. Ou troco de lado ou desisto disso”.
Esta pergunta me levou a uma caminhada pelos caminhos obscuros e confusos da minha memória, pra responder às perguntas mais questionadas e respondidas no meio BDSM: “Há quanto tempo está no meio?” e “Como se descobriu?” (Se você está lendo isto, já respondeu a estas perguntas, no mínimo, uma vez. Provavelmente dezenas).
A resposta pra segunda pergunta vem automaticamente, conforme fui percorrendo estes meandros da memória e comecei a lembrar das experiências que, agora, já tenho uma boa noção de que fazem parte do BDSM – ainda que algumas sejam apenas um rascunho do futuro depravado, no bom sentido, claro, que eu me tornei [risos]. Aquela namoradinha que gostava mais de uns tapas, aquela outra que, por mais loucas que fossem minhas decisões, seguia e obedecia, aquela que, de supetão colocou minhas mãos no pescoço dela e pediu pra apertar, aqueles tradicionais momentos em que o casal resolve “esquentar as coisas” e alguém compra uma algema pra prender o outro, uma “mais doidinha” que gostava de ficar fazendo desenhos na própria pele com uma ponta de faca – que eu achava MEGA estranho até ela escrever as minhas iniciais – ou até mesmo aqueles momentos infantis onde você pega uma caneta aleatoriamente e resolve escrever “pertence à [próprio nome]” no corpo dela.
Ao me deparar com este tipo de lembranças, me dei conta de que sempre estive no controle da situação, tanto por ter me imposto quanto por ter recebido “de bandeja” as rédeas, e, ora bolas, cada uma destas experiências foi sendo agregada às anteriores, tornando o relacionamento seguinte mais complexo, visto que eu sentia falta do que não tinha mais e as ensinava e tentava impô-las pra nova namorada.
No entanto, ao investigar mais minuciosamente, percebi que em algumas situações, nem sempre era eu a parte “ativa” na prática, o que me levou ao segundo dilema: “Top, bottom ou Switcher, o que diabos eu sou?”, mas isso é história pra outro dia.

Até lá!

4 comentários:

  1. Esse dilema pode ser um dos principais motivos das pessoas desistirem do BDSM.
    Isso quase aconteceu comigo (ou talvez ainda aconteça), já que eu mesma me vejo como incapaz; tanto pela minha idade (18) quanto pela falta de conhecimento (e prática na verdade).
    Eu sempre penso que, por mais que eu leia ou converse com pessoas que estão a muito tempo nesse meio, eu jamais terei base suficiente para ser uma Dominadora.
    Felizmente já consigo compreender que a Dominação é uma arte que leva tempo e dedicação. E por mais que eu ainda seja nova eu não preciso, necessariamente, começar a praticar agora; ou começar com práticas mais "pesadas".
    Hoje eu penso na Dominação como uma forma de trazer a luz os desejos mais reprimidos de uma pessoa; uma arte que proporciona a libertação de todo o potencial de alguém.

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    1. Acho que a questão do "ser X" é mais "se sentir X" que "estudar para ser X".
      É óbvio que, sem estudo, não vai ser nada bom, mas ser um dominador, switcher ou submisso é mais uma questão de "dentro pra fora".
      A idade complica, é claro... Tem o preconceito, a falta de conhecimento de algumas coisas que só a maioridade proporciona...
      No geral, quanto mais experiências (até mesmo baunilhas), melhor, mas o conhecimento virá através do estudo e a prática vem como em qualquer área da vida: com o tempo.
      Vc não deve, na verdade, começar com práticas mais pesadas. Comece com o básico, experimente, sinta-se segura nele. A partir de então, avance lentamente.
      Não só a dominação, mas o BDSM é, pra nós que temos este fogo - sem trocadilho - dentro de nós, libertador.
      Concordo plenamente com o seu pensamento.
      Seja paciente, pois se tiver que ser, será.

      No mais, boa sorte e continue lendo o blog, Yara!
      São os comentários que me dão força pra continuar!

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  2. Realmente esse dilema é a questão que se não for respondida pode te deixar confuso para o resto da vida. Quando eu conheci o BDSM, sim, eu achei bizarro em todos o sentido, desde o contrato de submissão às praticas em si. Eu me conformo com os dois lados, tanto o sadista quanto o masoquista. Eu entendo o BDSM como uma religião muito grande onde nela você tem regras, trajes, integrantes e patamares e que para ser agregado dela deve-se entregar de corpo e alma literalmente. Uma Top talvez eu não consiga ser mas uma Bottom com certeza eu consigo, por isso desde já estudo para isso. Me interessei muito pela cultura e espero me agregar a ela em breve, mas por enquanto só estudos para que eu não erre no momento. Sou nova de idade, desde cedo eu senti que a dor me dava uma sensação diferente, difícil de explicar por isso comecei a pesquisar sobre isso, encontrei o BDSM e me familiarizei. Espero que seu blog possa ma guiar nesse caminho mágico que é o dessa cultura tão complexa. Desde já obrigada pela atenção.

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  3. Então, em maio deste ano conheci um garoto que tô curtindo e ele me disse que curtescurte BDSM como sub. Eu fiquei mais perdido que tudo. Porém, dentro de mim surgiu a curiosidade e o desejo, junto com os medos e receios. Conheci o blog pelo canal do YouTube, já que fui me informar sobre a técnica de bondade, nós e amarrações já direto. Ele praticamente não tem experiência (teve a experiência de ser amarrado 2x, sem muita técnica e conhecimento, e gostou). Eu ainda tenho medo de machucar, de ser incomodo semvsem prazer. Entao vou acompanhando sua história, e já estou me identificando muito desde já. Expectativas mil nesse novo mundo q se abre diante de mim.

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