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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Dilema #3: Da importância do equilíbrio entre teoria e prática

Caso encontre algum termo desconhecido, recomendo a utilização do meu Glossário BDSM, que está dividido em 2 partes (vide links a seguir): Parte 1 e Parte 2.

Este não é exatamente um dilema, mas um pensamento... Mas como na hora de inverter os pepeis (verão abaixo do que se trata) estive num dilema entre agir de uma maneira ou calar-me.
Este texto foi originalmente postado no mural de artigos do Castelo BDSM. Recomendo a quem quiser ler textos muito melhores que este, escritos por várias pessoas maravilhosas com conhecimento do que dizem, recomendo a todos que entrem lá e divirtam-se!



O que:

Um dia desses estava conversando com uma bottom que se intitulava iniciante e essa conversa acabou me remetendo a uma conversa semelhante que tive no meu terceiro ou quarto mês no meio – que hoje parece que faz muito tempo, mas foi há pouquíssimos meses.
Essas duas conversas tratavam do mesmo assunto, mas com posições trocadas de um personagem: eu.

Na época eu estava recém chegado, já tinha tido umas duas sessões meia-boca e, consequentemente, tinha passado um pouco do frenesi inicial do “preciso de uma sub pra treinar” e estava consideravelmente compenetrado na missão de pura e simplesmente devorar toda e qualquer informação sobre técnicas e práticas em que pudesse pôr minhas mãos – ou dedos, olhos, mouse, ou até mesmo que só escutasse como fazer – e aprender como proceder em cada uma. Até que em uma festa, uma amiga minha me apresenta uma amiga dela.

Dias depois, no Facebook, recebo uma mensagem dizendo que a tal amiga queria uma sessão. Na hora veio aquele mix de sensações: a euforia do “finalmente vou ter uma sessão de verdade!”, o medo e insegurança do “será que eu sei o que fazer?”, a agitação do “quando é? Pode ser amanhã?”... E, nessa hora, a insegurança falou mais alto “Será que eu estou pronto?”, perguntei. “Gabriel, se você só ficar lendo e não for segurar um chicote, sua insegurança só vai aumentar e vai ser cada vez mais difícil. Pára de ler um pouco e vai praticar.” E assim foi feito.

Passam-se meses e eis que caio na mesma conversa com uma bottom que se denomina iniciante. Eis que descubro que ela já tem dois anos no meio, inclusive com um mentor e estava me pedindo explicações e ajuda. Eu, do alto dos meus 11 meses, fazendo meu melhor. E então entendi o motivo: ela não tem prática nenhuma. Nil, zero, niente, null. E me vi no papel da minha amiga meses atrás: “Pára de estudar um pouquinho e vai praticar!”

O porquê:

Naquela época eu não entendi bem o motivo de ter tomado um esporro de maneira tão efusiva como foi. Estava tão vidrado em atingir a perfeição teórica que não percebi o quão importante a prática era. E só depois de praticar consegui compreender.

A comparação aqui é bem simples. Todos se lembram da época da escola, em qualquer matéria que exigisse prática como português, matemática, física, química, biologia - até mesmo geografia! – SEMPRE ficava um pouco menos confusa depois de posta em prática, certo? Ou alguém se lembra de ter compreendido de primeira, só por ter lido ou ouvido, uma explicação teórica sobre como montar e solucionar uma equação de Bháskara ou definir os termos de uma Oração Subordinada, ou ainda fazer um simples heredograma ou solucionar uma fórmula qualquer de física acústica?

Não, né? Só depois de repetir exaustivamente infinitos exercícios é que a compreensão destas coisas foi ficando mais clara, e às vezes só meses depois é que aquilo começou a fazer sentido. Por esse motivo é que foi tão fácil compreender depois da tal sessão a razão da necessidade da prática.

Poucas pessoas são tão chatas quanto eu – e menos ainda são ainda mais insistentes na questão – quando se trata de estimular o estudo e a paciência na evolução teórica das bases, das regras, do controle e, principalmente, das práticas no BDSM, mas hoje, depois de praticar o aconselhamento (assim como minha amiga fez comigo), finalmente entendi a necessidade de expor este pensamento.

Ao praticar spanking, por exemplo, tem-se a oportunidade de visualizar frente a frente – ou frente a costas, na maioria das vezes (risos) – aquele modelo bonitinho que foi mapeado por alguém em um texto teórico mostrando quais áreas podem ou não ser atingidas. Ao amarrar alguém, finalmente tem-se a compreensão de como a física age nas cordas, de como a força de atrito trava uma amarração inteira com apenas uma volta da corda sem nem ao menos precisar usar um nó forte ou um laço. Na Dominação passa-se a compreender melhor as entonações de voz, o brilho no olhar, percebe-se aquele pequeno tremor no corpo do outro que pode significar uma punição a seguir ou um conflito interno pela vontade de negar e a necessidade de acatar uma ordem. Por mais que alguém possa descrever com maestria esses efeitos (etólogos fazem isso magistralmente no campo da biologia e psicologia), só será capaz de percebê-los e compreendê-los quem já os presenciou ao vivo, de perto.

A Prática torna a Teoria algo mais simples, mais compreensível. Faz aqueles textos imensos fazerem sentido em um décimo de segundo. A Prática produz a epifania da Teoria e vice-versa.

Teoria e Prática (com maiúscula mesmo, pra importância ficar bem clara!) são duas faces da mesma moeda. São os dois lados do Yin-Yang. Só com a união dos dois é possível equilibrar a balança que nos faz melhores em qualquer coisa na vida e que, a looooooooooooooooooongo prazo nos levarão a algum lugar perto da perfeição.

Então, a todos aqueles que lerem isto, TOPS, bottoms e Switchers, iniciantes, iniciados, macacos-velhos e dinossauros do BDSM: estudem. Estudem muito. Estudem como se suas vidas dependessem disso, porque muitas vezes ela poderá, de fato, depender. Leiam tudo o que puderem ler, escutem tudo o que puderem escutar. Absorvam a informação e então selecionem as informações corretas das incorretas. Separem o joio do trigo. “Como posso fazer isso?” você me pergunta. Ora, bolas, jovem gafanhoto! É simples... Pratique!

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